terça-feira, 28 de junho de 2011

Lendas (Parte VI) - A Origem da Lua

Lenda que explica a relação da Lua e o ciclo menstrual.
Um homem viajou sozinho. Na sua ausência, todas as noites, sua mulher recebia na rede a visita de um desconhecido. Um dia, ela preparou tinta de jenipapo e passou-a no rosto do visitante noturno. De dia, verificou que era um dos seus próprios irmãos e contou para sua mãe.

O irmão se escondera e, trazido à força para a maloca, levou uma surra. Quando se viu em liberdade, ele jurou vingança. Outro irmão o seguiu-o às escondidas, para observá-lo. De longe, viu quando ele entrou numa maloca estranha, onde foi morto. Observou, também, como os inimigos cortaram a cabeça do morto e jogaram num monturo. O irmão decidiu levar a cabeça para casa.

Quando anoiteceu, saiu do esconderijo, apanhou muitos vagalumes e esfregou-os no próprio rosto e no corpo, que ficaram fosforescentes. Parecia um fantasma e os inimigos correram apavorados. Ele apanhou a cabeça e fugiu, levando-a. Quando se viu longe, parou para dormir.

Na manhã seguinte, enterraria a cabeça. Mas, pela manhã, a cabeça começou a falar, pedindo água.
Ele buscou água e ofereceu à cabeça mas o líquido escorreu pelo pescoço cortado. Ele, então, cavou um buraco fundo. Nele deixou sepultada a cabeça e continuou seu caminho em direção à maloca. Quando viu uma fruteira, subiu para comer frutas. Nisto, a cabeça, que libertou-se do buraco e veio pulando atrás dele, apareceu pedindo fruta. O homem atirou uma fruta bem longe. A cabeça foi apanhá-la e ele aproveitou para correr para sua maloca, onde chegou gritando: "Mataram meu irmão e a sua cabeça virou fantasma!"
Todos se esconderam na maloca e fecharam as portas. A cabeça chegou pulando e pedindo que abrissem a porta. Ninguém lhe respondeu e ela chorou, do lado de fora, durante a noite toda, pensando no que se transformaria: macaco seria comido; água seria bebido; terra seria pisado; e assim foi pensando...


Pela manhã, ele lembrou-se da lua. "Serei a lua, depois de três dias, aparecerei, e então acontecerá uma coisa à minha irmã (a menstruação). E, cada vez que eu aparecer de novo, assim acontecerá às mulheres e elas irão dar à luz." Depois, pediu à sua mãe que lhe desse dois novelos de fio de algodão. Ela lhe deu os novelos, por uma fenda na parede. Ele atirou os novelos para cima e alcançou o céu pelo fio que desenrolara. Quando já estava alto, sua gente saiu da maloca e viu como ia subindo cada vez mais, até desaparecer no céu.
(Resumo de lenda coletada por Curt Nimuendaju).

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