sexta-feira, 15 de julho de 2011

As lendas e mitos indígenas

       Ao observar um eclipse, você encara normalmente, por causa das informações que tem sobre esse fenômeno astronômico. Não se assusta, não imagina coisas fantásticas e nem procura outra explicação,
além da científica, para a ocultação parcial ou total da Lua ou do Sol. Agora imagine um ser humano primitivo observando o mesmo fenômeno pela primeira vez. Como não tem as informações que você tem, ele vai buscar uma explicação para o eclipse no fantástico, na superstição e nas crendices de seu universo cultural. Para ele, o sumiço da Lua ou do Sol pode ter ocorrido porque foram devorados por um monstro gigantesco. É assim que surgem as crendices, os mitos, as lendas. Um país como o nosso, onde a natureza se mostra de forma opulenta, não poderia deixar de ter uma vasta coleção de narrativas baseadas em fenômenos naturais. Entre elas se destacam as lendas indígenas, histórias sempre ligadas à mata, à caça, a feitos heróicos; enfim, à própria vida. As lendas, que passaram de geração a geração, procuram revelar, do ponto de vista do índio, mistérios como a origem do homem, da noite, das estrelas etc. Todas essas narrativas têm um ponto em comum, a grande sensibilidade e a beleza das histórias. E também guardam muitas semelhanças com outros relatos antigos, inclusive os bíblicos, como o da origem do homem.

Os índios contam que o Ser Supremo, certo dia, cortou um pedaço de madeira, esculpiu uma figura humana; com uma varinha, deu vários golpes nela, e a madeira virou homem. Em seguida, pegou uma das lascas da madeira, repetiu a operação com a varinha... E criou a mulher. Em outra lenda, o mundo é destruído por um dilúvio, restando vivo apenas um casal, que repovoou a Terra. Muitas das lendas indígenas se confundem com outras e têm várias versões, de acordo com o grupo cultural e com a região onde viveu a tribo. Além disso, após o descobrimento e durante a colonização portuguesa, muitas dessas histórias sofreram alterações, sendo influenciadas pelo europeu e pelo negro africano. A Iara, a mãe d’água, uma deusa branca de longos cabelos louros, revela claramente sua origem.

O Boto, uma espécie de golfinho de água doce, é outro exemplo. Suas histórias fantásticas eram narradas por navegantes muito antes do nosso descobrimento, mas ele acabou desembarcando na Amazônia legendária e transformou-se no peixe que vira homem, seduz as mulheres e volta para o fundo do rio.

O Curupira (ou Carapora), o menino de cabelos vermelhos, corpo coberto de pêlos e pés virados para trás, que todos conhecemos, é considerado o nosso mito mais antigo e que tem nitidamente uma criação livre de influências colonizadoras. Ele é uma espécie de gênio da floresta que protege a fauna e a flora. Aliás, protetor da natureza é que não falta à coleção de lendas indígenas. O Boitatá é outro protetor das matas,
só que tem a forma de uma serpente de fogo e luta contra quem promove queimadas. O mito mais popular, entretanto, é o Saci-Pererê, que parece em muitas lendas como um pássaro, transformando-se, com o passar do tempo, numa espécie de demônio de uma perna só. Mas é um demônio sem maldade, pois, por ser criança, se dedica apenas a molecagens. A popularidade desse mito se deve muito a Monteiro Lobato, que o transformou em personagem de suas histórias do “Sitio do Pica-pau Amarelo”. Além do Saci, os mitos indígenas já produziram pelo menos mais duas obras-primas da moderna literatura brasileira: “Macunaíma”, de Mario de Andrade e “Cobra Norato”, de Raul Bopp, livros que não podem deixar
de ser lidos com alegria. Mas o triste disso tudo é que, diante do que vêm ocorrendo na selva amazônica,
os mitos devem andar meio desacreditados, pois nem o Curupira ou Boitatá têm conseguido agir para evitar tanta destruição.
(Autor: Domingo Demasi. Fonte: Globinho Pesquisa, 1990).

3 comentários:

  1. ADOREI!!!
    BOM DEMAIS PRA ESTUDAR
    TENHO UMA PESQUISA DE MITOS E LENDAS E ESTAVA ESTRESSADA MAS COM ESSE SITE ESTOU MUITO ALEGRE E QUERENDO VER MAIS NOVIDADES

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  2. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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